quarta-feira, 12 de maio de 2010

Escola de R$ 1.700 aconselha aula particular

TALITA BEDINELLI


DA REPORTAGEM LOCAL

Se para educadores a prática de indicar professor particular demonstra uma deficiência da escola, o Conselho Nacional de Educação e o Procon vão ainda mais longe: dizem que ela é irregular. Mas as escolas privadas a fazem com frequência.

O fato foi confirmado à Folha por três professores particulares, indicados por escolas caras da cidade. Com mensalidades que superam os R$ 1.000, Santa Maria, Mater Dei e Lourenço Castanho estão na lista.

"A coordenação nos indica e a gente faz uma avaliação do que o aluno precisa. Às vezes, é uma necessidade de aprender a se organizar. Em outras, há uma lacuna de conhecimento", conta Newton Ishimitsu, um dos donos da Aliança Educacional, uma casa na Vila Nova Conceição, zona sul, que oferece reforço escolar. A empresa tem até 900 alunos por ano e cobra R$ 75 a hora de aula.

Os colégios particulares afirmam que só fazem o encaminhamento em último caso.

Não foi o caso de Ana, entretanto. A recomendação da Móbile foi feita antes mesmo de as primeiras notas do ano saírem. "A sensação que eu tenho é que a escola está nesse momento desistindo dele. Me dizendo: "eu não dou conta, chame uma outra profissional para complementar". Parece que as escolas só estão querendo ficar com os alunos que assegurem a elas um ótimo posicionamento no ranking no Enem".

Reforço é dever da escola, dizem educadores

As escolas têm obrigação de oferecer o reforço escolar, diz Cesar Callegari presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. "Elas devem produzir todos os meios para que todos os estudantes ali matriculados possam se desenvolver", diz.

"Recomendar um professor particular e às vezes indicar esse próprio professor, não é correto. Além de ser eticamente condenável", afirma. "Se a escola diz que não pode, ela que desista de ser escola porque ela tem a obrigação de fazer isso".


Silvia Colello, professora de psicologia da educação da Faculdade de Educação da USP, concorda. Para ela, a escola tem que "dar conta" do aprendizado. "O programa pedagógico tem que se ajustar à heterogeneidade do aluno e a possíveis descompassos que possa haver. Não o aluno se ajustar à escola".

As famílias com filhos em colégios particulares podem recorrer ao código de defesa do consumidor para que o reforço seja disponibilizado pela instituição. "A escola tem que garantir a prestação desse serviço, com qualidade", diz Selma do Amaral, assistente técnica da diretoria de atendimento do Procon-SP.


(Folha de S.Paulo)

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