terça-feira, 30 de abril de 2013

Quem trabalha?


Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano

Eu trabalho. Tu trabalhas. Ele trabalha. Nós trabalhamos e queremos trabalhar avançar?! Em qual sentido? Ontem, hoje, amanhã e depois é dia de trabalho. Certa vez li que o trabalho inicia-se com a busca do homem em satisfazer suas necessidades. Em seguida pensei: "E não é que é isso mesmo?!"

Comecei cedo como muita gente também. Sempre que conto a respeito lembro-me das minhas idas à feira da ´breganha´ durante as madrugadas de sábado para domingo. Tinha doze anos. As necessidades básicas em casa sempre foram supridas, mas algo diferente não cabia no orçamento. Assim, insistia para que meu pai me deixasse ir. Amigas, como Viviane Cunha, e parte da família, ajudavam doando roupas, utensílios para que eu pudesse trocar ou vender. Com o que arrecadava, custeava aulas de dança na antiga Academia Serafim.

Conforme a necessidade de estudar aumentava, aumentavam-se também meus esforços e criatividade. Detalhe: em todo esse período nunca fiquei de exame ou recuperação. O tempo que tinha, estudava e quando vez ou outra ficava na calçada da faculdade para vender os últimos brigadeiros, Marilda Prado - minha professora de então - me puxava para a sala de aula comprando os docinhos. Não foi fácil, mas como bem diz o pai de minha filha: “se fosse fácil qualquer um fazia”.

Hoje, iniciando na pesquisa, ao estudar temas como trabalho nos escritos de Ricardo Antunes, observo o quanto ainda trabalhamos para sobreviver e o quanto temos que trabalhar para constituir seu sentido sublime: associado à organização e política das sociedades há muito tempo já observadas pelos gregos. Na era da “sociedade do conhecimento” Márcio Pochmann frisa que o trabalho deixou de ser meramente uma questão de sobrevivência. É muito mais que isso. Trabalhar significa ser especialista em alguma área, é desenvolver-se constantemente, embora, no Brasil, essa realidade esteja distante principalmente para os jovens.

Não é de hoje que o jovem sempre se depara com a exigência de "experiência". Dados do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -, sob a análise de Roberto Gonzales, revelam ‘o desemprego juvenil como reflexo das mudanças mais amplas ocorridas no mundo do trabalho", isto é, sensível ao ciclo econômico. Logo, numa economia centrada no conhecimento a formação é determinante. Jovens brasileiros e da América Latina apresentam formação desigual, pois muitos precisam trabalhar para complementar a renda familiar e “abrem mão” de investir no conhecimento, na especialização e assim de desenvolverem condições para ocupar um melhor posto de trabalho para o qual exige-se habilidades adquiridas, por exemplo, por meio de estágios. Resultado? Jovens ingressam no trabalho de maneira muito precária.

A música dos Titãs: "a gente não quer só comida, (...) desejo, necessidade e vontade" colabora com a nossa reflexão e aponta caminhos na busca de trabalho para além da sobrevivência. O fato é que nosso desejo e vontade estão distantes da realidade. Amanhã, 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador, trabalhemos para que o trabalho avance em seu sentido sublime - atento para o ser humano, o trabalhador que o executa - conduzindo-o por meio de reais oportunidades de conhecimento. Comecemos então por suprir uma necessidade básica: Educação de qualidade para todos, para que a resposta ao nosso questionamento inicial seja: trabalhar para avançar com conhecimento e responsabilidade social.

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