Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano
Eu trabalho. Tu trabalhas. Ele trabalha. Nós trabalhamos e queremos
trabalhar avançar?! Em qual sentido? Ontem, hoje, amanhã e depois é dia de
trabalho. Certa vez li que o trabalho inicia-se com a busca do homem em
satisfazer suas necessidades. Em seguida pensei: "E não é que é isso
mesmo?!"
Comecei cedo como muita gente também. Sempre que conto a respeito
lembro-me das minhas idas à feira da ´breganha´ durante as madrugadas de
sábado para domingo. Tinha doze anos. As necessidades básicas em casa sempre
foram supridas, mas algo diferente não cabia no orçamento. Assim, insistia para
que meu pai me deixasse ir. Amigas, como Viviane Cunha, e parte da família,
ajudavam doando roupas, utensílios para que eu pudesse trocar ou vender. Com o
que arrecadava, custeava aulas de dança na antiga Academia Serafim.
Conforme a necessidade de estudar aumentava, aumentavam-se também meus
esforços e criatividade. Detalhe: em todo esse período nunca fiquei de exame ou
recuperação. O tempo que tinha, estudava e quando vez ou outra ficava na
calçada da faculdade para vender os últimos brigadeiros, Marilda Prado - minha
professora de então - me puxava para a sala de aula comprando os docinhos. Não
foi fácil, mas como bem diz o pai de minha filha: “se fosse fácil qualquer um
fazia”.
Hoje, iniciando na pesquisa, ao estudar temas como trabalho nos escritos
de Ricardo Antunes, observo o quanto ainda trabalhamos para sobreviver e o
quanto temos que trabalhar para constituir seu sentido sublime: associado à
organização e política das sociedades há muito tempo já observadas pelos
gregos. Na era da “sociedade do conhecimento” Márcio Pochmann frisa que o
trabalho deixou de ser meramente uma questão de sobrevivência. É muito mais que
isso. Trabalhar significa ser especialista em alguma área, é desenvolver-se
constantemente, embora, no Brasil, essa realidade esteja distante
principalmente para os jovens.
Não é de hoje que o jovem sempre se depara com a exigência de "experiência".
Dados do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -, sob a análise de
Roberto Gonzales, revelam ‘o desemprego juvenil como reflexo das mudanças mais
amplas ocorridas no mundo do trabalho", isto é, sensível ao ciclo econômico.
Logo, numa economia centrada no conhecimento a formação é determinante. Jovens
brasileiros e da América Latina apresentam formação desigual, pois muitos
precisam trabalhar para complementar a renda familiar e “abrem mão” de investir
no conhecimento, na especialização e assim de desenvolverem condições para
ocupar um melhor posto de trabalho para o qual exige-se habilidades adquiridas,
por exemplo, por meio de estágios. Resultado? Jovens ingressam no trabalho de
maneira muito precária.
A música dos Titãs: "a gente não quer só comida, (...) desejo,
necessidade e vontade" colabora com a nossa reflexão e aponta caminhos na
busca de trabalho para além da sobrevivência. O fato é que nosso desejo
e vontade estão distantes da realidade. Amanhã, 1º de maio, Dia Internacional
do Trabalhador, trabalhemos para que o trabalho avance em seu sentido sublime -
atento para o ser humano, o trabalhador que o executa - conduzindo-o por meio
de reais oportunidades de conhecimento. Comecemos então por suprir uma necessidade
básica: Educação de qualidade para todos, para que a resposta ao nosso
questionamento inicial seja: trabalhar para avançar com conhecimento e
responsabilidade social.
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