Pollyana
Gama
escreve artigo sobre Mandela e a luta contra o preconceito em nosso país
Pollyana
Gama
Vereadora
pelo PPS, escritora, professora
e mestre
em Desenvolvimento Humano
A morte
do líder político sul-africano Nelson Mandela na última quinta-feira, dia 5,
trouxe a tona sua história e as discussões sobre o preconceito, especialmente o
racial no Planeta, e as desigualdades sociais que ainda acentuam diferenças.
Ex-presidente da África do Sul entre os anos de 1994 e 1999, Mandela, prêmio
Nobel da Paz, foi o símbolo do combate ao regime do “Apartheid”, que significa
“vida separada”, ao qual os negros foram submetidos naquele país por longos
anos, dominados pelos brancos.
Sob o
efeito dessa atmosfera iniciou-se no fim da semana passada o 4º Congresso
Nacional de Mulheres do Partido Popular Socialista (PPS), em São Paulo, do
qual participei como representante da Coordenação das Mulheres do nosso Estado.
O encontro ocorreu concomitantemente ao 18º Congresso Nacional do partido,
liderado pelo deputado federal Roberto Freire, presidente da sigla no Brasil.
Marcado por
intensos debates, a arquiteta Helena Werneck fez a abertura enfatizando a luta
de Mandela como inspiração e exemplo a ser seguido pelas mulheres na conquista
de espaços tidos culturalmente como masculinos. Na sequência, as militantes do partido Adoração
Villar, Débora Albuquerque, Norma Shirley Ribeiro, Dina Lida Kinoshida, Luiza
Ribeiro, Tereza Vitale e a deputada federal Carmen Zanotto (PPS-SC) compartilharam
de suas percepções a respeito das questões de gênero em nosso país e da
necessidade de ampliarmos a participação da mulher na política potencializando
ações concretas.
Tive uma
breve participação. Breve mas suficiente para reafirmar que precisamos
distinguir diferenças das desigualdades que ainda marcam vidas e mais vidas de
nossa gente. Diferenças nos completam e, quando assim compreendidas, tem
o poder de nos aproximar para fazer acontecer uma ação conjunta, tendo por
resultado, por exemplo, uma nova vida: o que seria do espermatozoide não fosse
o óvulo e/ou vice e versa? Já as desigualdades, pelo contrário, nos distanciam
e criam realidades distorcidas, impossibilitadoras de um desenvolvimento que
tenha por princípio contribuir para a equidade social.
Nós,
mulheres, ficamos por muitos anos à margem da história política do Brasil
quando proibidas de votar ou se candidatar a cargo eletivo. Contudo, o que
dizer desses direitos frente ao direito que os antecede? Refiro-me ao direito a
vida, tirada a força de muitas mulheres vítimas da violência masculina ou de
sistemas opressores, preconceituosos e segregadores. Para lembrar, em 1932 o
governo de Getúlio Vargas garantiu o direito às mulheres de participar da vida
política, no entanto, quatro anos mais tarde, entrega a militante Olga Benário,
grávida de Luis Carlos Prestes, a Gestapo (polícia política alemã). Olga foi
executada numa câmara de gás pelos nazistas em 1942.
A
consolidação da presença de lideranças femininas na política ocorre, mas a
passos lentos, apesar do interesse de muitas delas. Entre a garantia desse
direito e a sua concretização de forma equânime tem-se um longo percurso.
Embora já possamos contabilizar ascensões significativas, os avanços que
permitam um quadro mais equilibrado entre homens e mulheres nos cargos eletivos
exigem dotar a mulher de seu próprio ser, de sua feminilidade e de sua própria
vida.
Para se
ter uma ideia da força da mulher, na década de 1970 representávamos 35% do
eleitorado brasileiro. Em 2006 ultrapassamos a marca dos 50%, conforme o
Tribunal Superior Eleitoral. O mesmo TSE informa que o número de candidaturas
femininas alcançou 31,7% do total de registros nas eleições de 2012. E esses
números refletem a realidade nos espaços políticos?
Um estudo
da União Interparlamentar, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU),
revelou que nosso país ocupa o 120º lugar em um ranking da proporção de
mulheres nos parlamentos. Estamos atrás de países islâmicos como Paquistão,
Sudão e Emirádos Árabes Unidos. Analisando dados apresentados pelo governo,
veremos que a participação das mulheres na Câmara dos Deputados é de apenas 9% e,
no Senado, de 10% do total. Na Câmara Municipal de Taubaté, dos 19 vereadores
eleitos, somos 4 mulheres (Pollyana, Graça, Gorete e Vera) representando um
percentual de pouco mais de 20% das cadeiras.
Mais uma
vez, de forma breve e direta, pode-se observar que a quantidade de mulheres na
disputa, possibilitada pela lei 9504/95, não garante a mesma proporção nas
esferas de governo. A luta de Mandela não extinguiu o preconceito mas
desacomodou, incomodou, sensibilizou, despertou consciências para o desenvolvimento
de seres humanos capazes de perceberem a igualdade na diversidade e a solução,
para muitos males, nas diferenças.
Como
mulher, e participante desse congresso, senti que mudar a realidade desse
contexto exige usar nossa indignação de modo inteligente para romper
paradigmas, muitos deles enraizados em nós mesmas, e somar com homens e
mulheres dispostos a transpor barreiras culturalmente resistentes. A causa deve
ser percebida como de todos nós.
Veja o artigo publicado originalmente no jornal "Gazeta de Taubaté":
Nenhum comentário:
Postar um comentário