terça-feira, 4 de junho de 2013

Perigo no céu de São João

Pollyana Gama escreve sobre os riscos causados pelos balões durante o período das festas juninas

Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano

E de repente, eis que ele chega com seus costumes, brincadeiras e muita comida em meio aos festejos. Não... não estamos nos referindo a nenhum chef de cozinha, palhaço e muito menos a alguma personalidade, mas ele é cheio de peculiaridades, cada qual com a sua identidade e história para contar. Ah! E é preciso cuidado, aliás, muito cuidado, pois um de seus artigos é sorrateiro e por um descuido pode causar uma tragédia irreparável.

Bandeirolas de Volpi lembram a tradicional festa junina
Junho é o mês das tradicionais ´festas juninas´. É tempo de muita alegria ao relembrar a infância e participar das quadrilhas, forrós, leilões, bingos e casamentos caipiras organizados nos bairros e nas vilas das cidades. É tudo prazeroso, sim, mas, por outro lado, a festa de “São João” marca o início da temporada de alerta máximo contra balões, o que pode tornar o prazer em um grande pesadelo. A partir de agora, com a chegada dos dias mais frios, o clima mais seco e a proximidade das festas aumentam os riscos nos céus do Brasil.

Embora muita gente veja apenas beleza ao olhar para um balão e muitos outros insistam em sua fabricação, sobretudo por conta das ´festas juninas´, a lei federal 9605/98 “proíbe a fabricação, venda, transporte e soltura de balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação ou em qualquer área urbana”. Para aqueles que desconhecem ou simplesmente ignoram a Lei de Crimes Ambientais, é bom que se diga que a detenção para quem for flagrado é de 1 a 3 anos de reclusão, além do pagamento de multa.

Somente no estado de São Paulo, o número de queimadas este ano aumentou 16% nos primeiros 5 meses, na comparação com o mesmo período de 2012. O mapeamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revela que foram registrados 414 focos entre janeiro e maio de 2013. Apesar do sinal de alerta, houve queda de 46% nos últimos 6 anos - entre 2006 (4.030) e 2012 (2.159) e os balões contribuem para alavancar esse índice.

Os estragos com a queda de um balão são quase inevitáveis podendo ferir pessoas, incendiar casas e provocar explosões, caso haja contato com a rede elétrica. Além dos riscos à vida, tem os prejuízos ao meio ambiente. Os incêndios empobrecem o solo, extinguem a flora e fauna nativas e, ao liberar dióxido de carbono, aumenta a influência do efeito estufa no clima.

Até mesmo os chamados balões ecológicos são nocivos, pelo perigo que representam para pousos e decolagens de aviões e para a rede elétrica. Dados da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) indicam que entre 1993 e 2004 o Brasil registrou oito colisões desse tipo. “Vamos supor que o balão de cerca de 15 quilos colida com uma aeronave a 300 km/h: vai ser um impacto de 3 toneladas e meia”, diz o tenente-coronel-aviador Carlos Antônio Motta de Souza, do Programa de Perigo Baloeiro do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).


Notadamente, o ímpeto dos “baloeiros” foi reduzido devido a insistentes campanhas divulgadas no passado – aliás, por que não voltam? -, aliadas às ações efetivas da polícia. No entanto, é sempre tempo de entender que essa ´brincadeira´ não pode existir além dos alto-falantes das festas juninas ou das telas do notável pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988), que deixou tantos balões em meio aos postes e bandeirolas de sua pintura comoventemente colorida. É uma ´brincadeira´ que só pode existir nas artes e na nossa memória, pois, na vida real, é sem graça porque pode queimar, destruir e matar.

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