Passei a semana toda pensando no que poderia falar aos meus colegas professores, com o intuito de celebrar o nosso dia, comemorado ontem: O Dia do Professor. Que bom que consegui expressar!
Dizer o quão importante é a nossa profissão e o nosso papel para o desenvolvimento de nossa sociedade é um bom começo. Parabenizar a todos professores que contribuíram, contribuem e/ou contribuirão com o desenvolvimento da humanidade é reconhecer, validar sua atuação presente como condicionante estratégica para o futuro.
Contudo, acredito que, assim como eu, muito mais que serem lembrados, meus colegas professores querem ser, de fato, percebidos, valorizados.
E este não é um pensamento que me acompanha somente nesta data e nem tampouco "um pensamento". A valorização docente tem sido objeto de meus estudos e ações, como até mesmo do meu engajamento político, há muitos anos.
Há um consenso teórico de que é preciso valorizar o professor para que a educação se desenvolva com qualidade. No entanto, num mundo constituído por pessoas e suas distintas percepções a cerca do que lhe representa ser "valorizado", como tornar realidade essa necessidade?
Ao ser aprovada no programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Taubaté, pude dar sequência à pesquisa relacionada ao tema com objetivo de compreender o contexto da desvalorização social do professor e consequentemente propor meios para consolidar políticas públicas que venham a consolidar sua valorização.
A orientação da conceituadíssima Prof Dra Márcia Maria Dias Reis Pacheco foi fundamental para esse feito e será impossível nesse momento detalhá-lo com profundidade.
Basicamente, para exemplificar o risco de extinção da docência, ao delimitar os grupos de licenciandos ingressantes e concluintes, deparei-me com realidades alarmantes como, por exemplo, o alto índice de licenciandos que afirmam “não querer ser professor” ou somente querer exercer a profissão em caso de falta de opção. Outro alerta convergente para o tema desse artigo - Professor: uma profissão em risco de extinção - como para pesquisas da UNESCO coordenadas por Bernadete Gatti está na "evasão" ao longo dos cursos de formação de professores, isto é, muitos dos que iniciam não concluem. Para vocês terem uma ideia, em nossa região do Vale do Paraíba, a situação mais grave está no curso de Física onde o número de alunos concluintes não corresponde a 10% do total de alunos ingressantes.
Em termos de Brasil, se por um lado o Censo da Educação Superior de 2009 mostra que a oferta de cursos de Pedagogia praticamente dobrou (94%), o mesmo não ocorreu com o número de matrículas que aumentou apenas 37%. Isso sem falar no percentual de concluintes também inferior aos ingressantes.
Tais situações refletem de forma clara a falta de atratividade dos jovens, da sociedade pela profissão docente. Dentre as razões já conhecidas destacam-se os salários baixos, carga horária excessiva, condições precárias de trabalho. E para quem pensa que isso só está acontecendo no Brasil, ledo engano.
Segundo o Instituto de Estatística da Organização das Nações Unidas para a Educação, mais de 3,4 milhões de professores serão necessários até 2030 e somente um investimento maciço em prioridades como capacitação dos professores, formação rigorosa, melhores condições de trabalho, remuneração condigna, treinamento com base na qualidade, desenvolvimento de carreira bem planejado pode fazer com que esta meta seja cumprida.
No portal “Todos pela Educação”, você pode conferir o déficit apontado de 1,4 milhão de professores para garantir o Ensino Básico Universal.
Assim sendo, caros colegas e sociedade, nesta semana em que celebramos o Dia do Professor, paralelo aos votos de felicitações e a alegria de ser professor, externo meu sincero agradecimento a quem, como eu, escolheu a docência em meio a um contexto tão desfavorável ao reconhecimento de nossa ação e, aproveito, para enfatizar que a valorização demanda políticas públicas que validem a docência, considerando desde aspectos históricos, econômicos até mesmo subjetivos que permitam ao professor o sentimento de ser reconhecido pela sociedade para qual trabalha, promove e da qual faz parte.
Compartilho também, com vocês, da necessidade de nos percebemos como parte do coletivo de quem tanto esperamos reconhecimento e valorização. Isso exige irmos além da indignação, muitas vezes latente nos discursos mas pouco impulsionadora de atitudes que façam a nossa valorização acontecer. Ir além exige formação, conhecimento, engajamento, mobilização eficiente, propositiva.
Que o dia do professor tenha sido feliz a todos nós e que represente um marco encorajador para persistirmos por nossa valorização e existência.