A Câmara de Taubaté
promoveu na noite desta quarta-feira, 26,
mais uma edição do
"Dia Municipal do Diálogo Inter Religioso",
decreto legislativo
334/10, de autoria da vereadora Pollyana Gama (MD), oradora oficial do encontro.
O tema escolhido para este ano foi "Diálogo para a Não Violência".
Abaixo, o discurso proferido por Pollyana durante o evento:
“Boa
noite, senhora presidente, nobres pares, munícipes aqui presentes, líderes e
membros das distintas comunidades religiosas, senhoras e
senhores, telespectadores da TV Câmara Taubaté e a você que nos assiste pelo
site da TV Câmara, na internet.
É
com muita alegria que esta Casa de Leis é aberta para cumprir o seu papel
democrático ao reunir as diversas doutrinas de nossa cidade para o “Dia
Municipal do Diálogo Inter Religioso”, cujo objetivo é estimular o exercício do
respeito e da tolerância entre as pessoas de diferentes convicções religiosas.
A
data foi incluída no calendário oficial do município por meio do decreto
legislativo 38 de 2009, de minha autoria e aprovado por todos os vereadores. Ao
longo desses anos, temos observado avanços significativos nesse sentido. Na
primeira edição, em 2010, abordamos “A Religião de Cada Um Por Uma Cultura de
Paz”; em 2011, o legislativo taubateano sediou o “Fórum Mundial de Liberdade
Religiosa”; em 2012, cada religião compartilhou da sua contribuição para “A
Manutenção da Família”; e para este ano, os religiosos dialogarão sobre “O
Diálogo Para a Não Violência”.
O
“Diálogo Inter Religioso” emerge hoje como um dos grandes desafios para o
século 21. As diversas tradições religiosas vêm provocadas a perceber a
importância vital de um relacionamento criativo e mútuo entre si mesmas, como
condição essencial para um futuro mais harmônico para a humanidade. E esse
ponto de equilíbrio depende da capacidade que temos em compreender e respeitar
a diversidade religiosa ou cultural de um povo.
Na
última semana, produzi um artigo intitulado “Abaixo à intolerância” onde me
refiro à importância do respeito às diferenças em meio aos protestos que
estamos acompanhando em todo o Brasil. Apesar dos manifestos não terem cunho
religioso, fiz questão de abordar o assunto para reforçar que a ausência de
diálogo incita a violência. No texto, inclusive, citei uma reflexão importante
do filósofo, teólogo e escritor suíço Hans Küng, que consta na primeira página
do seu livro “O Islão – História, Presente, Futuro”.
Ele
escreve que “não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as
religiões. Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as
religiões. Não haverá diálogo entre as religiões se não existirem padrões
éticos globais. Nosso planeta não irá sobreviver se não houver ethos global,
uma ética para o mundo inteiro”.
Atualmente
temos acompanhado pela mídia diferentes conflitos em diferentes contextos, além
dos religiosos. O que dizer dos embates ocorridos nos últimos dias motivados
por inúmeras razões? Para aqueles que observam na intolerância uma das formas
de conquista dos seus ideais, objetivos, se faz importante refletir a respeito,
pois ela é também inibidora da formação de uma sociedade capaz de decidir
consensualmente e de solucionar problemas comuns. Não professo com isso a
tolerância no sentido de se aceitar a tudo e a todos, mas, convido-os a
pensa-la sob a ótica de sua origem.
Etimologicamente,
tolerância vem do latim – tolerare – que era utilizado como uma forma de
garantir acolhimento a alguém, uma atitude fundamental para quem vive em
sociedade. Uma pessoa tolerante compreende opiniões ou comportamentos
diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social. Ela tem a capacidade de
perceber que nem todos tiveram as mesmas condições de vida, sobrevivência e
vivência da qual ela dispõe e por isso respeita.
Diante
disso tudo, o que fazer? Ser tolerante ou intolerante? Compartilho parte da
análise feita pela Doutora em Filosofia e Ciências Religiosas, Ivone Gebara,
que me trouxe um pouco de luz: “As palavras tolerância e intolerância poderiam
ter assim gradativamente seu significado original restaurado. Poderiam ser
convite cotidiano para que sejamos apoio para os outros, paciência e perdão. E
quando o vírus da intolerância se manifestar de novo, sermos capazes de lembrar
que palhas e traves existem em todos os olhos, mas que além delas existe a
beleza do olhar ou existe simplesmente a misteriosa e frágil chama da vida em
cada um de nós”.
Nem
todos sabem que praticamente 70% das guerras ocorridas na história mundial
foram causadas em decorrência de conflitos religiosos. Recentemente, a
Associação Brasileira de Liberdade Religiosa deu publicidade ao fato de que 25%
dos 196 países pesquisados, isto é, 49 países, enfrentam episódios de
perseguição e violência motivados pelo fundamentalismo religioso. Embora no
Brasil a liberdade religiosa seja garantida por lei, ações neste sentido são
ainda um tanto que isoladas, fazendo com que muitas vezes o preconceito fale
mais alto, a intolerância se instale na tentativa de convencimento e “a paz
entre os homens” não aconteça.
Acredito
que só é possível estabelecer uma cultura de paz por meio do diálogo. Apesar
das diferenças, pode-se, com a sua prática - desde que os locutores estejam
também dispostos a ouvir -, perceber pontos em comum e é justamente essa
percepção que favorece o amadurecimento e atitudes de respeito à diversidade e
à vida. Foi esse o principal motivo de termos criado em Taubaté um dia especial
para a promoção deste diálogo entre as religiões”.
Vereadora Pollyana Gama (MD), oradora do Diálogo Inter Religioso |
Doutor Jean Soldi Esteves, representante da Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias |
Antonio Rogério Lemes de Souza, o Pai Rogério, representante do Candomblé |
Marina Ferri, representante da Comunidade Espírita |
Padre Everton dos Santos Carvalho, representante da Igreja Católica |
Pastor João Batista, representante da Igreja Evangélica |
Pastor Samuel Mendes Dutra, representante da Igreja Presbiteriana |
Kimico Nogutti Batista Marsushita, representante da filosofia Seicho-No-Iê |
Roseli de Aquino Freitas, a Mãe Roseli, representante da Umbanda |
Mesa com as lideranças religiosas |
Lideranças religiosas e vereadora Pollyana Gama |